Calma, não é do Brasil que estamos falando, mas da Alemanha – o país das montadoras e do automóvel!
“No país das montadoras e estradas sem limite de velocidade, o motorista acaba muitas vezes completamente parado. Com congestionamentos constantes, o sistema rodoviário alemão mostra-se cada vez mais saturado”.
Assim começa matéria, extraída do site DW-World, sobre o “Caos sobre rodas”, que se abate na Alemanha, todos os dias. Alguma coisa parecida com São Paulo, no Brasil.
A matéria prossegue: “A comparação não poderia ser mais trágica: segundo o semanário Die Zeit, as artérias do sistema rodoviário alemão estão tão entupidas, que encontram-se à beira de um infarto. E, pelo que parece, não há safena capaz de salvar o caos que vem se instalando em proporções cada vez maiores. Em Colônia, por exemplo, a quarta maior cidade do país, 360 mil veículos passam diariamente pelos meros 52 quilômetros que circundam a cidade. Por falta de espaço, não é de se admirar que qualquer imprevisto – obras, presença de policiais em ação, um mero carro com defeito – acabe causando um congestionamento.”
Vejamos se há mais alguma semelhança com o que vemos hoje no Brasil, fruto de uma cultura rodoviarista de cinco décadas:
“Trens e ônibus vazios – Frente a um panorama como esse, não é de se admirar que as estradas estejam sempre cheias e muitas vezes “entupidas”. Enquanto isso, vários ônibus e trens andam às moscas. Um bom exemplo é o setor de vendas de caminhões, que cresce constantemente, enquanto o transporte de cargas no setor ferroviário quase não registra lucros. O resultado não poderia ser outro: o caos nas rodovias.”
No Brasil, fala-se muito em falta de planejamento. Como será na Alemanha?
“Planejamento – Especialistas creditam a culpa não à ausência de estradas, mas à falta de um melhor planejamento dos transportes no país, que, até hoje, ainda faz do automóvel uma das alternativas (financeiras) mais atraentes (leia-se mais baratas) de locomoção. Além disso, o país que prima por projetos ecológicos é um dos grandes “pecadores” em relação ao meio ambiente no que diz respeito ao amor de seus habitantes pelo automóvel.”
A matéria encerra-se com uma forte crítica ideológica ao significado do automóvel na cultura alemã. Alguma semelhança como o Brasil?
“Símbolo de liberdade – “A idealização do carro e do transporte individual remete até o Terceiro Reich, quando as estradas eram construídas visando uma velocidade cada vez maior, ao contrário do que aconteceu na Holanda, por exemplo. Além disso, há ainda nossa relação problemática com a liberdade. O carro simboliza a liberdade e a aventura. Quanto mais nos sentimos presos, mais procuramos por nichos como esse”, comenta o psicanalista Micha Hilgers ao Die Zeit.
Ilusão – Da sensação de liberdade, no entanto, os congestionamentos não guardam muito. No entanto, como observa Hilgers, “a velocidade real não é tão importante quanto a sensação que as pessoas têm de que poderiam confortavelmente andar em um carro de luxo, com um motor potente e rápido. Elas compram mais a ilusão do que a possibilidade real de fazer isso”.”
O motivo de postar, daqui para frente, matérias sobre o que ocorre nos países desenvolvidos é mostrar que as mazelas daqui têm muito a ver com as escolhas semelhantes que nossos governantes fizeram. A cultura do automóvel, com todos os significados que existem, é algo que precisa ser mudado. Um projeto nacional, como o que estamos desenvolvendo, de resgate do trem regional de passageiros é apenas o início dessa mudança. A implantação de trens de alta velocidade, em substituição ao crescimento exponencial da aviação comercial, e a consolidação dos sistemas metroviários e de trens urbanos completam as medidas que permitem essa inflexão.
Enquanto existir esse blog, vou martelar nessa tecla. Tenham paciência! 🙂
Como curiosidade, um filmete de teste de velocidade de um automóvel numa autobhan da Alemanha. Como se vê só pode ser feito de madrugada já que, durante o dia (veja a foto acima) …
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