O serviço de vans e cabritinhos na cidade do Rio de Janeiro representa uma importante alternativa de transporte público complementar aos modais mais tradicionais, como ônibus, metrô, trens e barcas. Esse sistema de transporte atende principalmente regiões periféricas e bairros onde o acesso aos serviços de transporte de massa é limitado ou inexistente, oferecendo aos moradores uma opção mais flexível, ágil e, em muitos casos, mais rápida, principalmente nas áreas de difícil acesso ou com alto nível de congestionamento.

Origem e Funcionamento das Vans e Cabritinhos
As vans e os “cabritinhos” surgiram inicialmente como um serviço informal de transporte nos anos 1990, em resposta à crescente demanda por mobilidade em regiões carentes de transporte público eficiente. Os “cabritinhos” são uma categoria mais antiga e peculiar, caracterizados por veículos menores que transitam principalmente em áreas mais elevadas ou em favelas, onde veículos maiores não conseguem operar devido à precariedade das vias.
Com o tempo, e diante do aumento da demanda, o poder público percebeu a necessidade de regularizar o setor. Hoje, boa parte desse serviço de vans é regulamentado pela Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), que define rotas, horários e pontos de parada. No entanto, ainda há veículos irregulares que operam sem autorização, principalmente em áreas de difícil fiscalização.
As Rotas das Vans no Rio de Janeiro
As vans operam em diversas áreas da cidade, com maior concentração nas zonas Norte e Oeste. Elas são fundamentais para o transporte em regiões como a Zona Oeste, onde a infraestrutura de transporte de massa é mais deficitária, servindo bairros como Campo Grande, Santa Cruz, Sepetiba, Guaratiba, além de comunidades da região. Também têm forte presença em áreas periféricas da Zona Norte, como na Baixada de Jacarepaguá e no Complexo do Alemão.
A operação das vans é baseada em trajetos pré-determinados, que muitas vezes se sobrepõem ou complementam as linhas de ônibus. A principal vantagem desse sistema é a sua flexibilidade, com maior frequência de paradas e a possibilidade de atender vias onde grandes veículos não conseguem circular. Além disso, as vans oferecem maior agilidade para acessar bairros de difícil trânsito e onde as condições das ruas são precárias, o que faz com que o serviço seja uma escolha popular em muitas áreas.
Bilhetagem Digital e o Sistema Jaé
Desde 2022, a Prefeitura do Rio de Janeiro tem implementado o sistema de bilhetagem digital, conhecido como Jaé, em diversos modais de transporte público da cidade, incluindo o serviço de vans. Esse sistema moderniza o pagamento de tarifas, permitindo que os usuários realizem o pagamento de passagens utilizando um aplicativo no celular, que gera um código QR para ser escaneado no momento do embarque. Com essa tecnologia, os passageiros não precisam mais carregar dinheiro em espécie, aumentando a segurança e facilitando a mobilidade.
O sistema Jaé é simples e de fácil acesso. Para utilizá-lo, o passageiro precisa baixar o aplicativo, disponível para Android e iOS, cadastrar-se e realizar a recarga de créditos via cartão de crédito, débito ou boleto bancário. O passageiro, então, gera o QR code correspondente à tarifa da viagem e o apresenta ao motorista ou cobrador da van para que o código seja lido por um leitor.
Essa implementação de bilhetagem digital é uma tentativa de integrar e padronizar o pagamento em diferentes modais de transporte da cidade, permitindo uma maior integração e facilidade de uso. Além das vans, o Jaé já está integrado aos ônibus municipais e está sendo gradativamente expandido para outros modais, como trens e metrô.
Integração com os Sistemas de Transporte Público
O serviço de vans no Rio de Janeiro não é isolado, ele se conecta diretamente com os demais sistemas de transporte da cidade e do estado. Muitos trajetos de vans funcionam como alimentadores de estações de trem, metrô e BRT, principalmente em áreas mais afastadas do centro da cidade e de bairros onde o acesso aos modais de maior capacidade é limitado.
Na Zona Oeste, por exemplo, muitas linhas de vans levam passageiros até estações do BRT, que conecta essa região diretamente a áreas centrais e à Zona Sul. Já na Zona Norte, as vans também complementam o transporte por ônibus, conectando bairros mais periféricos às linhas de trem da SuperVia e às estações de metrô da cidade.
Um dos grandes desafios enfrentados atualmente é a integração tarifária completa entre as vans e outros modais. Enquanto o sistema Jaé já permite o pagamento digital nas vans e em alguns ônibus municipais, ainda não há uma integração tarifária plena que permita, por exemplo, que o usuário pague uma única tarifa para realizar a viagem em diferentes modais (vans, ônibus, metrô, trens). No entanto, há planos e discussões em andamento para que essa integração ocorra, oferecendo ao cidadão uma maior facilidade no uso do transporte público, sem que haja necessidade de múltiplos pagamentos ou recargas.
Desafios e Futuro do Serviço de Vans
O serviço de vans enfrenta alguns desafios em termos de operação e regulação. A fiscalização é uma questão central, já que ainda existe uma quantidade considerável de vans que operam de maneira irregular, fora das rotas oficiais ou sem as devidas licenças. Isso pode gerar concorrência desleal com os operadores regularizados e colocar os usuários em risco, devido à falta de manutenção ou adequação dos veículos.
Outro desafio é a qualidade do serviço. Embora as vans ofereçam agilidade, nem sempre proporcionam conforto aos passageiros. Os veículos, por serem menores, podem ficar rapidamente lotados, e a condução, em alguns casos, é feita de maneira imprudente, visando cumprir horários apertados e maximizar o número de viagens realizadas ao longo do dia.
A cidade do Rio de Janeiro tem buscado melhorar esse cenário por meio de iniciativas de regularização e modernização do sistema de transporte alternativo, como a ampliação do sistema de bilhetagem digital e o aumento da fiscalização. Além disso, há discussões sobre a ampliação de corredores exclusivos para vans, especialmente em áreas da Zona Oeste, a fim de garantir que esses veículos possam operar de maneira mais eficiente e sem disputar espaço nas vias com o grande fluxo de carros e ônibus.
Perspectivas Futuras: Integração Plena e Sustentabilidade
Para o futuro, uma das grandes apostas é a integração plena das vans com os sistemas de transporte de maior capacidade, como o BRT, o metrô e os trens da SuperVia. A cidade já possui modelos de integração em outros modais, como a integração entre ônibus e BRT, e é provável que as vans sigam essa tendência.
Além disso, a prefeitura tem incentivado a transição para uma frota de veículos mais modernos, com menor emissão de poluentes, em conformidade com as políticas de sustentabilidade e redução de emissões de carbono. A substituição gradual das vans atuais por veículos elétricos ou movidos a combustíveis menos poluentes é uma possibilidade que tem sido considerada, especialmente com o aumento da conscientização ambiental na gestão pública.
Em resumo, o sistema de vans e cabritinhos no Rio de Janeiro é um serviço essencial para a mobilidade urbana em áreas menos servidas pelos modais tradicionais. Com a implementação da bilhetagem digital Jaé e o foco na integração com outros sistemas de transporte, o serviço tem potencial para continuar evoluindo e se tornar cada vez mais integrado, acessível e sustentável. A regularização e a modernização desse sistema serão essenciais para garantir sua eficiência e segurança, promovendo uma melhor qualidade de vida para os cidadãos e maior conectividade entre as diferentes regiões da cidade e do estado.
José Augusto Valente

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