As rodovias, ao lado dos portos, serviram de saco de pancadas da mídia, dos partidos de oposicão ao governo federal e de várias entidades representativas do segmento empresarial, nos últimos seis anos. Até hoje se fala que as rodovias estão em situação precária, com muitos buracos, com problemas de sinalização e de capacidade, gerando elevados custos operacionais para os transportadores e embarcadores.

Essa é uma das maiores falácias veiculadas insistentemente pela mídia, durante esses anos. Paradoxalmente, essa falácia é desmascarada pela própria pesquisa rodoviária anual, da CNT – Confederação Nacional do Transporte.

Em 2008, a CNT não realizou pesquisa. A pesquisa realizada em 2009, divulgada anteontem (28/10/09), mostra o seguinte quadro:

· Sobre os pavimentos (págs. 32 a 35, do Relatório Gerencial), a pesquisa informa o seguinte, em relação aos 87.552 quilômetros avaliados:

o 94,3% não apresentam buracos (em 2007 era 87,1%);

o A condição do pavimento não obriga a redução de velocidade em 95,3% da malha (em 2007 era 86,4%);

o 83,3% dos pavimentos dos acostamentos estão em boas condições (era 73,2% em 2007);

o Em 2007, 94,4% dos pavimentos não apresentavam pontos críticos. Em 2009, não foi feita essa avaliação.

· Sobre a sinalização (págs. 36 a 44), a pesquisa informa o seguinte, em percentual da extensão avaliada (87.552 km):

o Pinturas das faixas centrais com boa visibilidade: 75,4%

o Pinturas das faixas desgastas: 16,3%

o Pinturas das faixas laterais com boa visibilidade: 64,3%

o Pinturas das faixas desgastas: 18,3%

o Placas existentes de sinalização de limites de velocidade: 70,2%

o Placas existentes de indicação: 68,5%

o Visibilidade das placas: 73,4%

o Legibilidade total das placas: 64,8%

· Na avaliação da geometria (pág. 46 e seguintes), o padrão de “rodovia ideal” é equivalente às rodovias paulistas Anhanguera, Bandeirantes, Castelo Branco e Imigrantes. Todas de pista dupla com canteiro central, raios de curvatura grandes e rampas suaves. Como 88,9% da extensão das rodovias avaliadas é de pista simples de mão dupla, isso já é uma condição para que estas tenham notas abaixo de 81 – regulares, ruins ou péssimas.

Como já dissemos anteriormente, a avaliação da geometria deve ser relegada a segundo plano porque o DNIT e os DERs não podem seguir os padrões da CNT, sendo obrigados a seguir os padrões internacionais cuja fonte é o HCM – Highway Capacity Manual.

Como se observa, a pesquisa CNT 2009 mostra que a malha rodoviária nacional (federal e estaduais, concedidas e com operação estatal) melhorou muito nos últimos anos. Graças aos elevados investimentos realizados pelo governo federal, pelas concessionárias e pelos governos estaduais, via recursos próprios e via repasses da CIDE.

Não há, portanto, qualquer coerência entre as fotos mostradas pelo Globo e a realidade mostrada pela pesquisa, em relação aos pavimentos e à sinalização.

Aliás, o argumento de que a CIDE não é utilizada em sua totalidade só se sustenta no período 2002-2004. A partir de 2005, os recursos da CIDE foram totalmente utilizados pelo Governo Federal e pelos Estados sendo que, atualmente, estas esferas de governo investem valores bem acima do que se arrecada com a CIDE. Lembrando que a lei que criou a CIDE apontava a destinação de recursos para projetos e obras de transportes e não só para obras rodoviárias.

Em 2009, a CNT trocou o conceito de ligações rodoviárias por corredores rodoviários. Além disso, não divulgou as Notas Gerais, de Pavimento, de Sinalização e de Geometria, o que nos impede de comparar a evolução de 2007 para 2009. Quando a CNT divulgava as Notas, nos permitia fazer um levantamento das condições das rodovias com Notas acima de 70 que, acreditamos, para o grande público, permite uma avaliação positiva, distinguindo as que estão abaixo de 70 que, de fato, poderiam ser consideradas regulares, ruins ou péssimas.

Além disso, a CNT não distingue rodovias de baixo volume de tráfego em relação às de alto volume. O que gera conclusões disparatadas como a de que a logística está comprometida devido às condições precárias das rodovias, contradizendo o que é apresentado em sua própria pesquisa.

Conhecendo-se os volumes de tráfego da malha rodoviária federal, que a CNT não considera, pode-se afirmar que a grande maioria das cargas rodoviárias que circulam pelo país o fazem através de rodovias em boas ou excelentes condições de pavimentos, sem buracos, com boa sinalização e em condições de tráfego coerentes com o relevo e com os custos viáveis. É o que mostra, de forma indireta a pesquisa rodoviária da CNT, já que não há um quadro demonstrativo do tráfego.

É necessário explicitar que as malhas rodoviárias do Centro-Oeste e do Norte do país sempre apresentarão problemas em seus pavimentos, quando combinar tráfego pesado de caminhões com regime de chuvas intensas, que ocorre em metade do ano. Para minimizar os estragos, o DNIT tem contratos de manutenção permanente, em praticamente toda a malha. Ainda assim, é possível conseguir fotos de buracos em pequenos segmentos rodoviários.

Finalmente, as matérias na mídia tentam correlacionar estradas em más condições com aumento de acidentes. Pesquisa realizada pelo IPEA/DENATRAN, em 2006, mostrou de forma categórica que ocorrem mais acidentes e com maior gravidade nas rodovias com maior volume de tráfego; em boas ou ótimas condições de pavimento, geometria e sinalização; com boas condições climáticas e em retas.

Tanto é que o estado com maior custo de acidentes é São Paulo. Isto é óbvio porque quanto melhor a condição da rodovia maior a imprudência – velocidade e ultrapassagens perigosas –, que é o principal causa de acidentes, especialmente se associada ao consumo de drogas como anfetaminas, cocaína e álcool.

(Clique aqui para ler o artigo “Estradas boas, estradas perigosas”, que escrevi em 5 de março de 2007, a partir da pesquisa do IPEA)

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