
Em sua coluna Panorama Econômico de 30/08/09, replicada em seu blog (clique aqui), Míriam Leitão trata do assunto referente às decisões do Governos Lula – e porque não Fernando Henrique – de continuar investindo no modal rodoviário, na Amazônia, quando sob vários pontos de vista o hidroviário e o ferroviário são muito mais sustentáveis, ainda que exijam investimentos de maior vulto na fase de implantação.
Um dos alvos da coluna é a decisão de pavimentar a BR-163/MT/PA, ligando Cuiabá (MT) a Santarém (PA).
Muita gente tem escrito e apresentado avaliações sobre logística e transportes desconhecendo as estratégias que estão por trás dessas decisões. Inclusive as tomadas nos governos Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique.
Quando estive como Secretário de Política Nacional de Transportes/MT, coordenei a elaboração de um estudo intitulado “Plano Nacional de Logística e Transportes – PNLT“, que abrange o período 2007-2023. Trata-se de um plano de estado de longo prazo. A primeira fase de planejamento foi feita em 2006, tendo sido concluída em 2007.
Não vou me estender sobre o PNLT pois aqui, neste blog, há um grande número de posts sobre o assunto, para quem quiser se aprofundar (Clique aqui para acessá-los).
Entretanto, a imprensa e alguns “especialistas”, apesar de convidados, não quiseram participar do processo de elaboração desse estudo, conduzido pelo Centran (Exército), com especial participação da empresa Logit e da FIPE/USP, além de consultores individuais, com destacada atuação no Ministério dos Transportes e no extinto Geipot.
A elaboração do PNLT contou com a participação técnica dos citados acima e ainda de várias entidades e órgão públicos importantes – usuários, operadores, pesquisadores, produtores – como CNI, CNT, quase todas as Federações das Indústrias, Universidades, Ministérios, Governos estaduais, entre outras.
Assim, do ponto de vista metodológico, e também de participação dos atores sociais relevantes, não há o que questionar no trabalho elaborado pelo Ministério dos Transportes. Talvez devamos questionar a apatia da imprensa com um assunto que entendemos da maior relevância, especialmente quando lemos avaliações como as feitas na referida coluna.
Dito isso, voltemos ao início. A colunista e o especialista consultado – que elaborou um estudo localizado para o escoamento da soja, ao contrário do PNLT que considerou mais de oitenta produtos e premissas estratégicas, para além das mencionadas – não leram o PNLT e não sabem, portanto, duas coisas básicas:
a) a pavimentação da rodovia BR-163/MT/PA não é um simples projeto rodoviário para escoar grãos. Ela faz parte de um grande projeto de ocupação sustentável de toda aquela região. Esse projeto – Plano BR-163 Sustentável – foi levado a cabo durante a gestão e com intensa participação da ex-ministra Marina Silva, sob a coordenação do Ministério da Integração Nacional (gestão Ciro Gomes).
Quem quiser saber mais sobre este projeto é só clicar aqui.
b) a Hidrovia Teles Pires – Tapajós faz parte das indicações do PNLT, com previsão para início das obras (de eclusas), a partir de 2015, e com investimentos estimados em R$ 1,4 bilhão (pág. 53). Por enquanto, nada aponta para a não implantação dessa importante hidrovia.
Então trata-se de dois projetos com objetivos diferentes e que serão concorrentes, quase exclusivamente, em relação à movimentação de grãos.
A rodovia, entretanto, é insubstituível quando se trata do objetivo ocupação sustentável da região no eixo Cuiabá-Santarém.
Até porque ela já existe, em revestimento primário, e centenas de caminhões percorrem-na nas piores condições imagináveis, atolando a todo momento, no período chuvoso.
Com este post, quero sugerir a todos e todas que se proponham a falar ou escrever sobre investimentos em transportes que primeiramente leiam o Plano Nacional de Logística e Transportes, do Ministério dos Transportes.
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