O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) transformou-se no principal alvo de críticas do relatório da organização do Fórum Econômico Mundial, elaborado em conjunto com a Fundação Dom Cabral, sediada em Belo Horizonte.


“O PAC não vai acelerar nada, é programa de recuperação do crescimento”, disse o diretor da Fundação Dom Cabral Paulo Resende, especialista em transportes e logística e responsável pela análise do quesito infraestrutura para o Brasil no relatório do fórum.


Resende vê o programa federal com poucos investimentos para fazer frente às demandas. Seu relatório tomou como base o plano nacional de logística da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e o estudo dos sistemas de energia dos Estados Unidos, China, Austrália e Canadá, países de grandes dimensões como o Brasil.

Na área de distribuição de energia, o Brasil precisaria investir US$ 10 bilhões até 2010 e previsão do PAC para isso é de US$ 5,6 bilhões. Nas rodovias, o investimento deveria chegar a US$ 25 bilhões até o ano que vem. O programa federal prevê US$ 14 bilhões para o segmento. No setor portuário, a necessidade estimada pelo professor é de US$ 15 bilhões, montante três vezes superior aos investimentos citados no PAC. “Se, em cinco anos, o Brasil crescer de 4% a 5%, vai sofrer um apagão logístico”, afirmou.

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Não quero faltar com a ética e criticar o Sr. Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral, que é apresentado como especialista em transporte e logística. Mas, como tentarei mostrar a seguir, é difícil aceitar tranquilamente os absurdos que são veiculados na matéria do Valor e é possível que ela não tenha sido fiel ao que ele escreveu e disse. Assumo a presunção de que a  matéria pode ter distorcido tudo. Então, fica entendido que a crítica será feita ao que a matéria leva a supor que faz parte do referido relatório.

Com que autoridade faço essa crítica? Me sinto à vontade para fazê-la por ter sido o coordenador do Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT), do Ministério dos Transportes, cujos estudos iniciais foram realizados em 2006, com atualizações periódicas. Naquela época, eu ocupava a pasta de Secretário de Política Nacional de Transportes, de onde saí em junho de 2007, para me tornar empresário nessa área.

1. Nenhum especialista em logística e transportes se baseará no Plano de Logística da CNT e nas analogias com outros países. Quem faz isso é exatamente o não especialista. O verdadeiro especialista procurará estudos científicos do governo ou nas Universidades, feitos com base em dados objetivos. Assim, o Sr. Paulo Resende e os responsáveis pelo relatório não poderiam deixar de consultar o PNLT que, até hoje, é o único estudo existente no país , de âmbito nacional e com base científica. As pessoas podem não gostar do que ali está e podem questionar o método científico utilizado. Só não podem trocar um trabalho com base objetiva por outro trabalho, que embora inclua o PNLT, acrescenta reivindicações legítimas mas subjetivas dos representados pela CNT. 

2. O PNLT é um trabalho com base científica, indicando os investimentos necessários até 2023, discriminando as necessidades até os anos de 2011, 2015 e até 2023. O PAC de logística foi estruturado com base no PNLT.

3. Ao contrário do que diz a matéria do Valor, o PAC só não acelera nada para quem não sabe o que é o PAC. Por incrível que pareça, houve tanta desinformação de parte da imprensa em relação ao PAC que, mesmo com as inúmeras tentativas de mostrar o que é e como está se desenvolvendo, feitas pela ministra Dilma Roussef e pelo ministro Guido Mantega, não se conseguiu esclarecer a sociedade brasileira.

4. Por conta desses inúmeros erros de qualificação do PAC, escrevi um artigo intituladoA ignorância de grande parte da imprensa em relação ao PAC. Nele procuro mostrar de pronto que o PAC é muito mais do que os investimentos federais. Muito mais, inclusive, que os investimentos dos governos estaduais, municipais e da iniciativa privada. Não sei se o especialista Sr. Paulo Resende ao dizer que o PAC não acelera nada esqueceu disso. Fica a impressão de que ele não leu – ou leu e não entendeu – e não gostou. As medidas institucionais, como mostro no artigo, são tão ou mais importantes, para acelerar o crescimento do país, do que os investimentos financeiros da União, dos Estados, dos Municípios e da iniciativa privada. Dou apenas o exemplo da prorrogação do Reporto – que significará investimentos pesados dos operadores portuários (iniciativa privada) – e a extensão do Reporto ao modal ferroviário, que terá o mesmo impacto que nos portos. Esses investimentos, ao contrário do que diz o Relatório, aceleram sim o crescimento, porque aumentam muito a eficiência das operações logísticas.

5. A frase cunhada pela CNT, colocada na boca do Sr. Paulo Resende, que diz “Se, em cinco anos, o Brasil crescer de 4% a 5%, vai sofrer um apagão logístico” é mais antiga profecia não realizada. Houve, de fato, um real “apagão” na área de energia, ao final do governo FHC. Os partidos que governavam o país quando desse comprovado e vivenciado apagão não se conformaram de perder as eleições em 2002 e resolveram cunhar várias expressões com o jargão “apagão”, acreditando que um desejo repetido frequentemente cria a realidade desejada. Infelizmente para eles, para a oposição, até hoje não aconteceu a profecia do “apagão logístico”, anunciada desde os primeiros dias do governo Lula.

6. Os dados objetivos do crescimento econômico acelerado e do comércio exterior demonstraram que a situação não estava caótica do jeito que eles apregoavam. Embora o governo Lula tenha recebido rodovias abandonadas e esburacadas (clique aqui para ler o postPesquisa Rodoviária da CNT, em 2003, mostra a situação dramática das rodovias brasileiras, após anos de abandono“), concessionárias de ferrovias em situação financeira crítica, portos com problemas de acesso, pouco calado, excesso de burocracia e coisas do gênero.

7. E o que aconteceu? O PIB não pode crescer? O comércio exterior ficou travado? A competitividade dos nossos produtos foi prejudicada? Não, ocorreu o contrário disso.

8. O PIB brasileiro cresceu de R$ 1,5 trilhão em 2003 para R$ 2,9 trilhões em 2008 (mesmo com efeitos da crise). A partir de 2002, a corrente de comércio exterior quase triplicou, passando de cerca de US$ 100 bilhões em 2002 para cerca de US$ 280 bilhões em 2007. A quantidade de contêineres (cargas de maior valor agregado) aumentou 2,5 vezes, passando de cerca de dois milhões, em 2002, para cerca de cinco milhões, em 2007.

9. Essas cargas chegaram aos portos, em grande parte, através de caminhões e trens. Se houve esse crescimento, em apenas cinco anos, significa que as exportações e importações fluiram e tinham custos logísticos suficientemente baixos para se tornarem competitivos e atraentes, respectivamente. Ainda que possam e devam ser menores no futuro.

10. Quando alguém não entende de um assunto mas, ao mesmo tempo, precisa criticar o governo, utiliza o absurdo mecanismo de comparar países. Quem ler todo o PNLT não encontrará isso. Encontrará um estudo de expansão da produção e do consumo e seus respectivos fluxos de cargas e pessoas. É isso que aponta a necessidade da infra-estrutura. Os EUA, a China, a Austrália e o Canadá não têm nada em comum com o Brasil, a não ser que são países de grandes dimensões territoriais. Esse ponto em comum não quer dizer absolutamente nada. A formação econômica foi diferente, o patamar de desenvolvimento, a ocupação e o adensamento demográfico, o clima, a topografia, os tipos de solos, tudo é diferente. E tudo isso, em conjunto, explica as decisões certas e erradas, nos momentos históricos em que foram tomadas, que levaram à rede de infra-estrutura de transportes diferentes. 

11. Como um exemplo disso: quem se der ao trabalho de estudar o PNLT verá que as áreas de produção e de consumo do país estão concentradas. O conjunto dessas áreas de maiores fluxos talvez não chegue a 1/3 da extensão territorial do país. Logo, não há o que comparar com nenhum país. O Brasil só pode ser comparado com ele mesmo: o que foi, o que é e o que pretende ser.

Finalizando, não há o que aproveitar do conteúdo dessa matéria. O PAC não é o que eles pensam e escrevem, os números que eles apresentam não vieram de estudos científicos, não houve e, provavelmente, não haverá “apagão logístico” porque medidas institucionais e investimentos estão sendo realizados pela União, pelos Estados, por Municípios estratégicos e pela iniciativa privada, visando prover a infra-estrutura necessária para o crescimento do país.

***

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5 respostas para “PAC é alvo de críticas no relatório da organização – os erros desse relatório”.

  1. Avatar de Chico

    Sr Valente, bom dia.

    Vi sua resposta ao meu comentário no Blog do Nassif.

    Está coberto de razão. Percebi o meu engano.

    Muito obrigado e parabéns pelo blog.

    Tornarei-me um frequentador assíduo.

    Grande abraço,

    Chico Pedro.

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  2. Avatar de Apollo

    UM VIÉS POLITICO !

    A Fundação Dom Cabral, com origem em Minas Gerais, apresenta, por um de seus denominados estudiosos, Paulo Resende, uma perspectiva de enorme descompasso entre os investimentos concentrados do PAC e efetivamente necessários a um ritmo de crescimento esperado entre 4 e 5%. Isso tudo estaria muito bom, não fosse um viés político subjacente e percebido nas vinculações de alguns importantes vocalizadores do anunciado estudo, a CNT e a Dom Cabral.

    Nesse sentido, num primeiro momento, temos a CNT com seu presidente, o Sr. Clésio Andrade, vinculado ao Sr. Marcus Valério, vice-governador de Minas Gerais nos mandatos de Eduardo Azeredo e Aécio Neves, ambos do PSDB. E, hoje, suplente do senador Eliseu Resende (DEM) que foi amparado e apoiado ostensivamente pelo Governador Aécio Neves.
    ………. Fonte: http://www2.pgr.mpf.gov.br/arquivos-de-denuncias/Inq_2280_denunciaazeredo_cota.pdf
    ………. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u63674.shtml

    Em segundo momento, temos a própria Dom Cabral de onde provém uma profunda e estreita vinculação com o atual governo de minas, haja vista que o Programa de Desenvolvimento dos Gestores Públicos – PDG MINAS 2009 tem realização do Governo de Minas, através da Seplag em parceria com a Fundação Dom Cabral e conjuga a participação de gestores efetivos de 48 órgãos e entidades. Há, portanto, um entranhamento da Dom Cabral no governo de minas e vice-versa.

    Não obstante os vínculos apresentados, há que se considerar os aspectos intrinsecamente provincianos incutidos no universo do ideário mineiro e, também, nos discursos apresentados como científicos.

    Senão vejamos primeiramente no discurso de Paulo Resende na Revista Tecnologística Junho/2004 nº 47, pg 04 em dois breves excertos: “São belos exemplos dados pela operadora TNT, pela transportadora Sada e pelo entreposto Usifast, com pioneirismo no just-in-time e milk run em Minas” (…) “Está na hora de exportarmos a cereja do bolo, cargas de grande valor agregado, e há espaço para operadores logísticos paulistas e mineiros concorrerem no atendimento deste pólo. E Minas está em desvantagem, porque São Paulo tem estradas, portos e aeroportos para atendê-los melhor”. A fala está desprovida de cientificidade, por apresentar-se mais como um ufanismo provinciano e um chamamento, uma conclamação. Enfim, um discurso político.
    ….. Fonte: http://www.cesa.com.br/img_not/CLI_FILE_DOWN69200484103AMtica

    Num outro momento, Emerson de Almeida, presidente da Fundação Dom Cabral, num artigo intitulado “O Choque de Gestão e seus desafios: um balanço positivo” apresenta: “Inicialmente, inovou-se ao definir uma agenda estratégica de governo numa perspectiva de longo prazo, a partir de uma visão de futuro inspiradora – “Minas, o melhor estado para se viver” – e de um conjunto de compromissos mobilizadores (metas e projetos) organizados em áreas de resultados.”. Uma declarada visão ufanista provinciana estertorizada de modo pouco científico para uma instituição que possui a Missão de “Contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade por meio da educação e capacitação de executivos, empresários e empresas”. E nas palavras do próprio presidente: “TRABALHAR COM AS EMPRESAS E NÃO SOMENTE PARA ELAS, ESSA É A FILOSOFIA DA FDC. Parceria. Comprometimento. Utilidade. É assim que a Fundação Dom Cabral busca construir o saber lado a lado com as empresas, desenvolvendo soluções educacionais que atendam às suas necessidades cotidianas e futuras.” Enfim, atender às necessidades das empresas, dos clientes e, por consequência natural, do cliente governo de minas.

    ………. Fonte: http://www.fdc.org.br/pt/blog_gestaopublica/Lists/Postagens/Post.aspx?ID=5
    ………. Fonte: http://www.fdc.org.br/pt/sobre_fdc/Paginas/missao.aspx
    ………. Fonte: http://www.fdc.org.br/pt/sobre_fdc/Paginas/mensagem_presidente.aspx

    Disso e a partir da visão de futuro do Governo de Minas, “Minas, o melhor estado para se viver”, subjaz um viés político com alterar do modo de pensar, até mesmo, do estudioso. Atinge-se o ponto de o cidadão mineiro acreditar piamente em frases ininterruptamente difundidas na mídia como “a melhor energia”, “a melhor água”, “o melhor governo”, enfim a melhor tudo. Há uma difusão deste ufanismo provinciano no qual os mineiros sentem-se vinculados e, por associação, sentem-se “os melhores”. Minas é isso, logo eu sou isso, todos os mineiros somos isso, “somos os melhores”.

    E, nesse mister de tornar realidade aquilo em que se crê ou que se quer que creiam, articulistas em todos os cantos irrompem com fundamentações para destruir tudo o quanto possa mostrar o contrário e repetir o uníssono “Minas, o melhor estado para se viver”. O Big Brother de 1984 é uma realidade incontesta em Minas. E, nesse momento, em 2009, inicia um extravazamento para o âmbito nacional. E, ao constatar-se que a política do governo federal tem sido suficiente para permitir crescimento e desenvolvimento em todo o país e não tão somente em Minas, bem como o PAC apresenta-se como uma efetiva resposta a diversas necessidades do país, tem-se a desmistificação da supremacia mineira. De fato, constata-se que Minas é tão e somente mais um estado na estrutura do país, um estado grande, mas tão e somente mais um estado, irrompe-se uma estratégia de desconstrução do PAC à semelhança de articulistas paulistas.

    Proferir discursos e incutir idéias de que o PAC é incapaz ou inepto serve a quem? Ante os vínculos apontados e verificados, ante a reunião de governo de minas, fundação dom cabral e cnt, estabeleço correlações muito singelas e fáceis. Neste caso, há um viés político que visa destruir a imagem do PAC para, num segundo momento, imbuído de senhor da verdade, apresentar o “CHOQUE DE GESTÃO”, O ELEITO no umbigo de minas, o Aécio cujo vice foi o Clésio da CNT.

    Enfim, em meu discurso subjaz um viés político.

    Em Minas, há……….. “A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO”.

    Em Minas, há……….. um repetir em uníssono……. “MINAS, O MELHOR ESTADO PARA SE VIVER”.

    Em Minas, o……….. BIG BROTHER, DE 1984, DE GEORGE ORWELL, É UMA REALIDADE INCONTESTA EM MINAS.

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  3. Avatar de Avelino

    Caro Augusto
    Há poucos dias tomei conhecimento de seu blogue, gostei muito, ele me fornece conhecimentos que aqui estão concentrados de uma forma também critica. Já está nos meus favoritos.
    Parabéns
    Saudações

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  4. Avatar de Chico

    Apolo

    Esta sua mensagem é bastante infeliz sob vários aspectos, vai me desculpar.

    A Fundação Dom Cabral é tratada como um apêndice do Governo de Minas.

    Como uma máquina de propaganda disposta a achincalhar o maior programa de desenvolvimento do Governo Federal.

    Todavia, muito antes dessa aproximação com o Estado a Fundação Dom Cabral já era considerada uma das melhores escolas de executivos da América Latina.

    Não sou um funcionário dela. Mas como mineiro, sinto-me orgulhoso como se sentiria um pernambucano, um gaúcho ou um paulista se a mesma estivesse localizada em qualquer um desses estados.

    O que mais me deixou constrangido, entretanto, foi essa história de “supremacia mineira”.

    Trata-se de uma bobagem sem tamanho.

    Se o Estado define como meta alcançar o melhor posto de desenvolvimento entre os demais entes federativos isso deve ser motivo de crítica?

    Será que eles deveriam definir, portanto, o segundo posto? Se os baianos escolherem a mesma meta os mineiros os processarão pela quebra de exclusividade?

    Se o Governo Federal definir como meta o nosso país figurar com o melhor índice de desenvolvimento econômico dentre todos os outros também merecerá uma reprimenda desse tipo?

    Ademais, a CEMIG é sim uma das melhores empresas de energia do país. É um problema dizer no slogan “a melhor energia”? Isso incomoda tanto assim?

    Tudo isso serve para a “supremacia mineira”?

    Sem contar essa repetição chata de “provincianismo”. Se formos, qual o problema? Se o seu estado é tão cosmopolita assim, diga qual é então, aí veremos.

    Um abraço.

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  5. Avatar de Leandro

    Caro Valente

    Achei interessante o eu texto. Entretanto, um ponto me chamou a atenção.

    Quando você comenta nos items 7 e 8 do seu texto, que o PIB quase duplicou em 5 anos, e cita que o comércio exterior triplicou em 5 anos, estes números podem ser considerados bons? Ou caso a infra de logística no Brasil fosse melhor, poderíamos ter crescido mais no mesmo período, considerando por exemplo nossas potencialidades e o crescimento do mundo como um todo?

    Como profissional da área de logística, não com a experiência do senhor e de outros citados no texto, tenho o sentimento de uma logística com grandes restrições no Brasil, por isso o meu questionamento.

    Atenciosamente,

    Leandro Bustamante

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