O forte crescimento do produto interno bruto (PIB) agropecuário, divulgado na quarta-feira, confirma o bom desempenho do agronegócio brasileiro, mesmo enfrentando obstáculos como a alta nos custos de produção, a valorização do real, que torna as exportações menos competitivas, e a crescente instabilidade dos preços das commodities, decorrente de movimentos especulativos financeiros.
Entretanto, os gargalos decorrentes da falta de investimentos do governo em infra-estrutura e defesa sanitária podem comprometer a continuidade do processo de expansão acelerada do agronegócio, segundo especialistas.
“O setor industrial, que produz máquinas e equipamentos para colheita, para construção de usinas de açúcar e álcool e mesmo para a produção de contêineres, fez o seu dever de casa e está investindo na ampliação de sua capacidade instalada. Já os problemas de ordem logística e sanitária continuam ameaçando uma arrancada maior do agronegócio por falta de maior empenho do governo”, diz Amaryllis Romano, analista da Tendências Consultoria.
O agronegócio se diz representado pela CNA – Confederação Nacional da Agricultura.
Esse setor, desde o início do governo Lula (2003) anuncia que os gargalos de infra-estrutura criarão obstáculos ao crescimento do país, especialmente do setor.
De lá para cá, o setor cresceu a taxas significativas, tanto para o mercado interno como para o comércio exterior.
Das duas uma:
a) a infra-estrutura de transportes é uma “porcaria” mas não tem nenhuma influência no crescimento do setor, já que este continua se dando a taxas elevadas, apesar de tudo;
b) o discurso do setor não tem fundamentação objetiva e, portanto, a infra-estrutura de transportes, ainda que não esteja no patamar europeu, está “dando conta do recado”, o que possibilita taxas elevadas de crescimento do “agronegócio”.
A CNA se tornou uma entidade fortemente partidarizada, com uma postura agressivamente anti-Lula. Daí o seu discurso ser de oposição pura, de anúncio do caos iminente e de choradeira permanente, ainda que todos(as) os(as) empresários(as) do setor estejam cada vez melhores de vida.
A principal evidência do que estou falando está no fato de que a Senadora Kátia Abreu (DEM) – hoje vice-presidente da CNA – se licenciou por quatro meses para fazer campanha para a presidência da entidade (clique aqui para mais detalhes), com vistas à futura chapa do PSDB-DEM na campanha presidencial de 2010, onde pretende ocupar a posição de vice do Serra. Ela é hoje a principal oposicionista ao governo Lula, no Senado.
Então, recomendo a todos que – quando lerem matéria onde esteja se expressando a representação do agronegócio – dêem o devido desconto e desconsiderem o anúncio de caos, a choradeira do câmbio, ainda que neste caso eles só estejam, legitimamente, querendo aumentar a sua rentabilidade.
Três últimas considerações:
a) não é verdade que a indústria de máquinas e equipamentos fez o dever de casa. Ao contrário, não fez, não investiu com a antecipação necessária e o produtor rural enfrenta filas de espera para a aquisição inclusive de caminhões. E a indústria não fez o dever de casa, porque acreditou em discursos de entidades que vivem, desde 2003, anunciando o caos;
b) as entidades representativas do setor nunca fazem a sua “mea culpa” da ausência de investimentos em silagem e armazenagem, por exemplo. As filas de caminhões no Porto de Paranaguá, em 2003, foram consequência dessa falha dos empresários, especialmente dos embarcadores. Estes preferiram transformar os caminhões em “silos ambulantes” do que investir em silos nas áreas de produção ou nos portos. Eles não só não reconhecem a sua parte de responsabilidade como transferem estes seus erros para o governo. Até hoje, representantes da CNA apontam as filas de caminhões em Paranaguá – que deixaram de existir quando o porto passou a exigir agendamento da chegada de carga – como culpa do governo Lula e não deles. O BNDES tem uma linha de financiamento para investimento em silos e armazens, que o setor empresarial ainda não resolveu abraçar com vigor – o Moderinfra;
c) para concluir: mais de 90% das rodovias utilizadas pelo agronegócio estão em boas condições de trafegabilidade, não causando nenhum impacto negativo relevante à cadeia logística; idem em relação ao modal ferroviário que está aumentando sua participação na movimentação desse tipo de carga e, com isso, reduzindo custos logísticos; os portos estão funcionando com eficiência suficiente para manter os produtos exportados competitivos no mercado externo. Daí o crescimento permanente do setor. O governo federal e os governos estaduais estão investindo maciçamente em infra-estrutura de transportes. A iniciativa privada, nas suas concessões rodoviárias, ferroviárias e porturárias, idem. Ao contrário do que diz a matéria.
O anúncio do caos iminente não se sustenta, portanto, em fatos objetivos.
É, literalmente, “conversa para boi dormir”!
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