Recebi sugestão de escrever sobre a possibilidade de utilizar o asfalto-borracha como alternativa para destinação dos pneus usados e/ou inservíveis, já que o Brasil produz 30 milhões de pneus desgastados por ano e ainda há a possibilidade de vir a importar mais alguma coisa, por exigência da OMC. Vamos lá!
Largamente utilizada há mais de 30 anos nos EUA, a técnica do Asfalto-Borracha, tanto para recapeamento, quanto para novos pavimentos, apresenta os seguintes resultados:
- Consumo de 1 pneu/m2, para uma espessura de 5,0 cm;
- Desde a década de 60 o Asfalto Borracha é produzido e “testado” nos Estados do Arizona e Califórnia e à partir da década de 80 também na África do Sul (continente africano);
- Criada por Charles H. MacDonald em 1963, sua técnica vem sendo aperfeiçoada ao longo desses 40 anos. Cabe ressaltar que as grandes empresas de petróleo dos EUA tentaram “quebrar” a patente, porém não conseguiram;
- Nos EUA existem cerca de 720 trechos pavimentados com o material, alguns com mais de 30 anos de durabilidade;
- A patente americana original “caducou” na década de 90 (conforme legislação local) e de lá para cá continuam utilizando a mistura, cada vez mais aprimorada, pois tornou-se de utilidade pública;
- A usina de asfalto utilizada para o processamento é a mesma, só acrescentando um tanque para a borracha moída ser adicionada ao cozimento dos “ingredientes”, o que acontece em torno dos 220ºC;
- Os equipamentos de aplicação do material ao solo são os convencionais utilizados para o asfalto comum;
- A vida útil é indeterminada. Nos EUA, os segmentos têm mais de 30 anos. (Lembrar que os pneus levam 600 anos para desintegrarem);
- Pode ser utilizada para recapeamento em pistas de rolamento de asfalto convencional ou de concreto e também para novas rodovias;
- A técnica foi apresentada no Congresso Mundial de Asfalto Borracha “Asphalt Rubber 2003” que aconteceu em Brasília em Dezembro/2003, cujos promotores, DER-DF e Rubber Pavement Association (RPA), receberam 55 países durante 3 dias para discutirem suas aplicações e avanços tecnológicos.
No Brasil, em maio/2006, a ECOVIAS concluiu o recapeamento de todo o trecho de serra da Via Anchieta, em um total de 28 Km. A concessionária utilizou cerca de 130 mil toneladas de asfalto borracha produzido em usina própria, adquirida em 2005 e recuperou outros trechos da Via Anchieta e Rodovia dos Imigrantes.
Em 2004 a CONCER (Rio – Juiz de Fora) recapeou o trecho do Km 45 ao Km 82 da BR-040 e utilizou essa técnica, também, na obra de duplicação do trecho do Km 799 ao Km 810 em Juiz de Fora.
Vantagens técnicas do asfalto-borracha: maior poder impermeabilizante; inexistência de fissuras; durabilidade; insensibilidade às variações extremas de temperatura (de 40ºC à camadas de neve); maior adesividade aos agregados; retardamento da reflexão de trincas (levam 3 vezes mais tempo para aparecer na superfície); redução do ruído provocado pelo tráfego entre 65 e 85%; conforto para os usuários em função da melhor aderência pneu-pavimento; redução da distância de frenagem, mesmo com a ocorrência de chuvas; redução de acidentes provocados por derrapagens; maior resistência ao envelhecimento do pavimento; requer manutenção reduzida; permite redução em até 50% da espessura do pavimento.
Desvantagem: Acréscimo de aproximadamente 20% do custo do asfalto comum.
Vantagens Ecológicas e Sociais: surgimento e fortalecimento de empresas especializadas na reciclagem de pneus para convertê-los em asfalto borracha; conseqüentemente, serão criados novos empregos diretos nas empresas recicladoras e indiretos ligados ao processo de angariação e movimentação de pneus inservíveis; redução de focos de criação de insetos prejudiciais à saúde e até letais ao ser humano; redução da poluição visual causada pelo descarte de pneus em locais impróprios; diminuição do assoreamento de rios, lagos e baías, causados, em parte, pelo indevido descarte de pneus. Finalmente, redução da demanda de petróleo (asfalto), por dois motivos: pela substituição de parte do asfalto por borracha moída de pneus e também pela maior durabilidade que será alcançada na vida útil de nossas vias públicas. Não podemos esquecer que o petróleo, e por conseqüência o asfalto, é uma fonte não renovável de energia.
Como se pode constatar, a tecnologia do asfalto-borracha tem futuro e será largamente utilizada se houver uma diretriz estratégica do Governo Federal e dos Governo Estaduais e Municipais nesse sentido. O custo de implantação é maior, mas o de manutenção é menor e, além disso, resolve-se boa parte de um problema ambiental complexo e de alto custo de resolução. Esse custo maior de construção pode ser reduzido com algum tipo de compensação fiscal pelo seu uso.
Colaborou: Carmen Regina
Alguns sites que tratam do assunto e veiculam experiências bem sucedidas:
Construsite;
ABDER;
Colinas;
Detran-RS;
Química
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